segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

- Desejo-te o suficiente

Há pouco tempo, no aeroporto estava uma mãe e filha despedindo-se. Anunciaram a partida, elas abraçaram-se e disse a mãe: Eu amo-te filha. Desejo-te o suficiente.

A filha respondeu: Mãe, nossa vida juntas tem sido mais do que suficiente. O seu amor é tudo o que sempre precisei. Eu também lhe desejo o suficiente.

Elas beijaram-se e a filha partiu. A mãe passou por mim e encostou-se na parede. Pude ver que ela queria, e precisava, chorar.

Tentei não me intrometer nesse momento, mas ela dirigiu-se a mim, e perguntou: Você já se despediu de alguém sabendo que seria para sempre?

Já, respondi. Minha senhora, desculpe-me pela pergunta, mas por que é que foi um adeus para sempre?

Estou velha e ela vive tão longe daqui. Tenho desafios à minha frente e a verdade é que a próxima viagem dela para cá será para o meu funeral.

Quando se estavam a despedir, ouvi-a dizer “Desejo-te o suficiente”. Posso saber o que é que isso significa?

Ela começou a sorrir. É um desejo que tem sido passado de geração em geração na minha família. Meus pais costumavam dizer isso para toda a gente.

Ela parou por um instante e olhou para o alto como se estivesse a tentar lembrar-se dos detalhes e sorriu mais ainda.

Quando dizemos “Desejo-te o suficiente”, estamos a desejar uma vida cheia de coisas boas o suficiente para que a pessoa se ampare nelas. Então, virando-se para mim, disse, como se estivesse recitando:

Desejo-lhe sol o suficiente para que continue a ter essa atitude radiante.

Desejo-lhe chuva o suficiente para que possa apreciar mais o sol.

Desejo-lhe felicidade o suficiente para que mantenha o seu espírito alegre.

Desejo-lhe dor o suficiente para que as menores alegrias na vida pareçam muito maiores.

Desejo-lhe que ganhe o suficiente para satisfazer os seus desejos materiais.

Desejo-lhe perdas o suficiente para apreciar tudo que possui.

Desejo-lhe “olás” em número suficiente para que chegue ao adeus final.

Ela começou então a soluçar e afastou-se.
Dizem que leva um minuto para encontrar uma pessoa especial, uma hora para apreciá-la, um dia para amá-la, mas uma vida inteira para esquecê-la.

(Autor desconhecido)

domingo, 6 de julho de 2014

"Se eu posso te dar um conselho, eis aqui: Não mendigue atenção de quem quer que seja. Não se esforce para compartilhar minutos com quem está mais interessado em coisas que não te incluem. Não prolongue a conversa apenas para ter o outro por perto, quando você perceber que precisa se esforçar bastante para que o monólogo vire um diálogo. Esqueça. Prefira a sua solidão genuína à pseudo presença de qualquer pessoa. Ainda digo mais: Perceba que existem pessoas que curtem dividir a atenção contigo sem que você precise desprender esforço algum. Aproveite o que te dão de livre e espontânea vontade. Dispense o que te dão por força do hábito ou por conveniência. Esqueça o que não querem te dar. Cada um dá o que pode." 

(Mario Calfat Neto)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

- Nova casa



Ontem gastei todo o meu dinheiro e comprei um terreno em Marte. Eis a foto, cedida pela NASA, do meu pedaço de felicidade. Sem gente, sem bicho, sem planta, sem carro, sem computador. Eu e a imaginação vamos morar no vazio.
No infinito. Pretendo não manter mais contato com os tolos, nem com os que habitam minha mente em memórias de estúpidos convívios do passado. Adeus.

sexta-feira, 14 de março de 2014

"Amigo, às vezes tenho tantas coisas pra te contar, que nem sei bem por onde começar. Mas queria te dizer que, sobretudo, é difícil entender o coração da gente. Viver é uma coisa que me assusta cada dia mais, mesmo tendo ainda toda essa coragem de principiante sonhador, em desbravar esse mundo por ai a fora.
Tenho vivido os dias que seguem cheio de fome. Tenho tido sede. Mas não de qualquer alimento, ou água fresca. Ando com o estômago remexido, como se um furacão houvesse passado por aqui. Tenho dormido tarde, isso quando durmo, pensando, planejando, fazendo de conta, contas. Tenho tentado esquecer de me lembrar.
Tenho fome de paixão. De abraços apertados, abarrotados de silêncio. De beijos no meio das falas. De mãos dadas, agarradas, de conversas fiadas, daquele “bom dia” cheio de segundas intenções.
Engraçada essa vida que a gente leva, né? Seguimos com as cabeças erguidas, julgando sermos donos dos próprios narizes, achando que quaisquer cafés requentados, pizzas congeladas e refrigerantes, encham a barriga da gente. Como se só comer hambúrguer livrasse a alma do peso. Como se comida japona tivesse o gosto da felicidade, ou que batata-frita fosse como um beijo de amor roubado.
Ah, quantas coisas a gente come achando que esse vazio que fica por dentro, é fome... E aqueles potes de sorvete, feito filmes de meia idade, com música triste e cobertor?! Dão a sensação mais completa do que é sentir fome de paixão. De amar. De ser platônico. De sentir aquele coração acelerado e frio na barriga só de ver alguém passar.
Percebi, há pouco tempo, amigo, que minha fome é de atenção. Entendi que cada um busca no outro, um punhado do que lhe falta, e só por isso que as pessoas se relacionam. Ninguém se basta por ser si. Ninguém é tão redondo que não tenha uma beira pra encaixar uma peça que por ventura lhe falte.
Vemos nos outros, nos seus reflexos e companhias, pedaços essenciais que julgamos faltar nas nossas felicidades. Por isso que carência é um bicho-papão. Ela faz a gente enxergar feito míope. Olhamos pro borrão, e vemos exatamente o pedaço que falta. Daí em diante, seguimos como bêbados, embriagados, que estão com as chaves do carro, tentando abrir a porta de casa.
Todo encontro, todo relacionamento, todo caso, devia ter antes de tudo, uma entrevista, quase como as de emprego. Algo que dissesse mais ou menos assim: “Oi, sou fulano e procuro isso, isso, isso, esse isso também, um pouco disso, aquele aquilo, e só mais isso, em alguém, se você puder me oferecer, podemos ficar juntos. Se não, olha, tem gosto pra tudo nesse mundo, acredito que sua metade não seja eu, mas, boa sorte”. Seria tão mais fácil. A gente se pouparia de tanta coisa, não é mesmo?
Mas não. A vida não dá tempo pra entrevistas de empregos pras vagas do coração, ou até dá, nós é que temos sede por mão de obra capacitada, e acabamos por contratar em regime de experiência, os primeiros candidatos que surgem por ai.
Amigo, tenho fome de paixão. Tenho percebido nos últimos tempos, o quanto é difícil dizer “eu te amo”, de verdade. Não aqueles fúteis, vazios de lógica, de sentido, que a gente ouve todo dia por ai. Tenho sentido, cada dia mais, dificuldades em amar alguém, só pelo fato de que as pessoas não se deixam amar.
Veja a que ponto o mundo chegou. As pessoas estão tão ocupadas inflando os seus egos, que não deixam mais espaços para que nós as amemos. Antes de receber carinho, é preciso observar o mundo todo, esgotar todas as possibilidades, pra só depois que a rotina esmagar os dias e a carência for mais forte, ufa, deixar, alguém, simplesmente, te amar.
Tenho vivido os dias que seguem cheio de fome. Tenho tido sede. Tenho buscado um alimento que não importa qual seja a fartura, me faça o escolher. Acho isso tão importante. Vivemos em um mundo plural, onde a oferta é maior que a procura, onde para cada ser humano, existem bilhares de tentações, mas, sinto falta, de algo que me faça resistir a todas.
Amigo, às vezes tenho tantas coisas pra te contar, que nem sei bem por onde terminar. Mas queria que soubesse que apesar do medo que ronda meus dias, a coragem é minha maior companheira. Descobri que sou maior que os meus sonhos. Levo minha felicidade tão a sério, que prefiro ser só, a não ser feliz."
(Matheus Rocha)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

"Vale a pena sonhar e traçar grandes objetivos. Quem tem objetivos ordinários ou desiste de grandes sonhos não tem boas histórias pra contar e vive a vida sem grandes aventuras. Se algo parece muito distante pra você, tente não pensar em tudo o que falta pra chegar lá, mas pense em quais são os próximos passos que você pode dar em direção ao seu sonho. Encare a dor e o cansaço e esqueça das estações de trem que vão surgir no caminho."

domingo, 19 de janeiro de 2014

- Dá-me a Tua Mão

Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

(Clarice Lispector)

domingo, 29 de dezembro de 2013

Espere alguém que não desista de você mesmo quando já não tem interesse.
Espere alguém que não te torture com promessas de envelhecer contigo, que realmente envelheça contigo.
Espere alguém que te faça ser mais amigo dos seus amigos e mais irmão dos seus irmãos.
Espere alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença.
Espere alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que você vai ler até o fim.
Espere alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e te perdoe sem querer.
Espere alguém que nunca abandone a conversa quando você não saber mais o que falar.
Espere alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute contigo para contar primeiro como se conheceram.
Espere alguém disposto a conferir se seu rosto está aborrecido ou esperançoso.
Espere alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros.
Espere alguém que não se irrite com a tua ansiedade.
Espere alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que te sequestre para o cinema, que cheire seu corpo suado como se ainda fosse perfume.
Espere alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto.
Espere alguém que te olhe demoradamente quando está distraída, que te telefone para narrar como foi seu dia.
Espere alguém que procure um espaço acolchoado em seu peito.
Espere alguém que ame teus filhos como se estivesse reencontrando sua infância e adolescência fora de você.
Espere alguém que fique te chamando para dormir, que fique te chamando para despertar, que não precise te chamar para amar.
Espere alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente.
Espere alguém que tenha uma risada tão bonita que terá sempre vontade de ser engraçado.
Espere alguém que comente de sua dor com respeito e ouça tua dor com interesse.
Espere alguém que prepare tua festa de aniversário em segredo e crie conspiração com seus amigos para ajudar.
Espere alguém que não se perturbe com o que as pessoas pensam a respeito de vocês.
Espere alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza.
Espere alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e que te pergunte o tempo antes de olhar para as janelas.
Espere alguém que te ensine a se amar porque a separação apenas vem te ensinando a se destruir.
Espere alguém que tenha pressa de você, eternidade de você, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educado a ponto de estendê-lo no cabide.
Espere encontrar um homem que te torne novamente necessária na vida de alguém!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

"É estranho, mas as coisas boas e os dias agradáveis são narrados depressa, e não há muito que ouvir sobre eles, enquanto as coisas desconfortáveis, palpitantes e até mesmo horríveis podem dar uma boa história e levar um bom tempo para contar."

(O Hobbit)